Em vésperas de um jogo muito importante para o Sporting (pelo prestígio, dinheiro, confiança e afirmação), relembrei-me de um péssimo capítulo da nossa História.
E relembrei-me não por querer agoirar ou colocar pessimismo no jogo na Roménia, mas porque preciso de me afastar destes episódios malditos - demónios autênticos.
A eliminatória da, extinta, Taça UEFA contra o Casino Salzburg é dos acontecimentos mais tristes que vivi como leão (só suplantado pela derrota com o CSKA, também na UEFA).
Pela forma como aconteceu, pela minha tenra idade (13 anos...), e pela equipa que tínhamos, foi uma desilusão enorme, criando traumas que veria repetidos, 1 ano depois, em Viena com o Rapid.
A minha história com o Casino também se conta em 2 capítulos: 1ª mão e 2ª mão.
Na 1ª mão, no dia 24 de Novembro de 1993 (já lá vão 24 anos...), desloquei-me a Alvalade com o meu pai e amigos (Gil e Piri), num quarteto que rumava a essa casa, em todas as 4ªs feiras europeias, desde da gloriosa caminhada da equipa de Marinho Peres (1990/91).
Após termos eliminado o Kocaelispor (Turquia) e o Celtic (Escócia), naquele que foi dos melhores ambientes que vivi em Alvalade (graças ao nosso público, mas com muito mérito da claque escocesa), parti confiante para esta eliminatória.
A equipa encontrava-se bem. Tínhamos Cadete, Valckx, Balakov, Figo, Cherbakov, Paulo Sousa, entre outros, e éramos bem liderados por Bobby Robson, Manuel Fernandes e Mourinho. Na Liga, seguíamos em 1º, algo raro na minha memória.
O jogo correu bem. 2-0, com um golão de Cherbakov e outro de Cadete. Creio que ainda enviámos uma ou duas bolas aos ferros (teria dado jeito terem entrado...).
No final, contente com exibição e confiante com o resultado, olhei para o meu pai que só abanava a cabeça e que estava visivelmente desiludido. Questionei-o acerca do seu desagrado, e ele só dizia: "devíamos ter metido mais um golo".
No meu desconhecimento acerca daquilo que o Sporting pode fazer para nos surpreender, ainda lhe disse (e como me arrependo... - e tenho a clara imagem deste episódio na minha cabeça): "Pareces um benfiquista! Esses é que estão sempre a protestar contra a própria equipa. Nunca estão satisfeitos!". Não me respondeu, nem repreendeu (e como deve ter doído tal insulto), e só voltou a falar em casa.
Chegados a casa, a minha mãe recebe-nos e pergunta logo pelo resultado. O meu pai, encolheu os ombros e, tristemente, respondeu: "2-0, ora bolas...".
Não percebia aquela descrença. Então ele disse-me: "Já tinha combinado com a mãe que, se ganhássemos, pelo menos, por 3 golos, íamos ver a 2ª mão à Áustria. Assim... não vamos."
Fiquei ainda mais zangado com ele. Porra, com 2-0 não dá para ir? Ainda por cima nunca andei de avião e nem sequer fui a Ayamonte! Irredutível, a decisão paterna manteve-se.
Então ele foi à sala, e junto dos folhetos da viagem à Áustria para ver o
Sporting, guardou o plano de jogo da 1ª mão, comprado nessa noite. Aí ficaram, até que na semana passada, resolvi abrir essa pasta e fotografar, tendo sido "publicados" nesta conta de
Twitter, dirigida por um grande leão (um forte abraço para ele!).
15 dias depois, dia 7 de Dezembro, um mês tradicionalmente fatídico para o Sporting, eu e o meu pai pusemo-nos à frente da Tv para assistir à 2ª mão. De porta fechada, em isolamento para o resto da casa, assistimos à derrocada. Exibição péssima e golos falhados. Só 1 golo bastaria para se ser feliz.
Quando, perto do minuto 90, Costinha dá um frango para o 0-2, percebi que, com 13 anos, estou ainda mais próximo da infância do que da adolescência. As lágrimas começam a correr... Logo a seguir, ainda antes do prolongamento, Capucho atira uma bola ao poste. Azar, azar.
Abandonei o meu pai e não vi o prolongamento (ainda hoje não sei como foi o 0-3). Refugiei-me num canto da casa e chorei agarrado à minha mãe. Chorei, chorei e chorei.
A minha mãe, coitada, só me tentava ver que aquilo "era só futebol" (e era), e que não valia a pena tamanho compromisso e tristeza. Mas, naquele momento, eu não queria saber.
Naquelas lágrimas, estavam anos e anos de derrotas e de nunca ter visto o meu clube ganhar. No dia seguinte era dia de escola, e lá estariam 20 lampiões à minha espera, para perpetuar a desilusão, com crueldade própria da idade. Esses mesmos lampiões, os que estão sempre a ganhar.
O meu pai aparece e confirma o desastre. Ficámos por ali.
Em Salzburg começou o fim dessa época, às mãos de um Sousa Cintra, com Coração e Garra de Leão, mas sem cabeça para nos governar.
Só muito tempo mais tarde agradeci ao meu pai o facto de nunca termos ido à Áustria. Ainda bem que ele não cedeu ao meu entusiasmo e colocou a sua "experiência de Sporting", para perceber que, aqui, nunca nada está certo. E o Sporting consegue sempre desiludir-nos, da pior forma.
Dali para a frente, só mais uma vez caíram lágrimas de tristeza pelo Sporting. No 3-6, contra o SLB (do quarteto que ia a Alvalade, só fomos 3 - o meu pai não quis ir ver o jogo).
Depois disso, secou.
É preciso que estes episódios comece a fazer parte de um Passado longínquo. O Sporting, pela sua grandeza, investimento e qualidade no plantel, não pode acumular derrotas e humilhações. Amanhã, em Bucareste, só temos de ter um pensamento: Vamos passar a eliminatória!
A nossa Paixão pelo Sporting é diferente da que vemos nos outros adeptos pelos seus clubes. Não digo que seja melhor. Não há arrogância neste pensamento.
Mas, apesar da diferença que apregoamos, o desejo de quando vemos a nossa equipa a jogar é o mesmo: VENCER.
(deixem-se de merdas)
ps: uma vez que não tive acesso ao computador entre sexta-feira e hoje, e com a aproximação ao jogo da Liga dos Campeões, não fiz um post sobre a excelente vitória em Guimarães.
Quando se ganha (daquela forma), há pouco a escrever. Foi bom, muito bom. Fomos uma equipa Grande, como há muito não se via. Jorge Jesus fez o óbvio: devolveu um 3º elemento ao nosso meio-campo (Bruno Fernandes - grande jogador!), e deu a Adrien e Battaglia a função de lhe passar a bola, e não de a transportar. Depois, existiu imprevisibilidade ao processo atacante, com as trocas dos extremos. A evolução (e resultado), foi notória.
Uma nota final para a excelente entrada de Iuri Medeiros: inteligência, criatividade, rapidez de execução e simplicidade de processos. É isso que ele traz. É ver o golo de Adrien e está lá tudo. Espero que tenha sido o 1º passo para a sua definitiva afirmação no Sporting. É aí que o queremos ver jogar.