Demasiado Respeito bloqueou a Ambição

Uma entrada autoritária, com pressão alta (grande trabalho de Moutinho, Liedson e Pedro Mendes), jogando no meio-campo adversário, fazia antever um Sporting dominador e ambicioso, que conseguisse impor um resultado que lhe desse (maior) tranquilidade para a 2ª mão. No entanto, a entrada de Bruno Pereirinha e a ausência de subida por parte dos laterais leoninos, foi encolhendo um Sporting, cada vez mais longe de Liedson e da baliza adversária. Foi já quando o At. Madrid pisava terrenos desconhecidos até então (as imediações da nossa área) que surge a última demonstração de ambição por parte do Sporting. Após uma boa impulsão e antecipação de Pereirinha (a única acção em jogo que beneficiou a equipa que representava, o Sporting), Liedson ganha uma bola à defesa madrilena e coloca na barra um remate de golo e (eventual) glória. Nesse lance, percebeu-se que a sorte desta época já estava usada (e abusada) no golo de Patrício frente ao Twente.

Depois veio a expulsão de Grimi e o jogo foi outro. Um Sporting que já se começava a retrair dava lugar a um Sporting (ainda mais) organizado, agressivo, solidário e seguro. A luta pela defesa da baliza de Rui Patrício obrigou a elevada concentração, rigor e a uma entreajuda não muito habitual numa equipa que tem feito a época que todos sabemos e, lamentavelmente, recordamos. Mas, este "novo" Sporting (após a entrada de Costinha, Carvalhal já lá está há mais tempo) foi maior com 10 (e com 9) do que foi com 11. Daí não concordar que o resultado fosse outro (a nosso favor) se jogássemos com 11. A ambição leonina viu-se com 10. A dimensão de Liedson, a segurança de Tonel e Polga, o equilibrio de Mendes e o espírito de sacrifício de Moutinho tiveram o seu expoente com 10.

Mas se algo correu bem (na óptica de que 0-0 é um bom resultado) também se deveu a um desequilibrado e muito limitado At. Madrid. O seu colectivo não existe e vive de individualidades que destoam do clube e respectiva dimensão. Aguero e Forlan não são peixes para aquelas águas e Reyes é o Martelinho cheio de cafeína lá do sítio.
No Sporting, houve momentos de displicência, prisão de movimentos e lentidão de pensamento que permitiram perdas de bola inqualificáveis que, contra uma equipa verdadeira, nos deixariam fora da eliminatória. E foi aqui que Carvalhal cometeu 2 pecados. O 1º com a entrada de Pereirinha. Um jogador que não se lembra da última vez que foi titular, sem raça, brio e agressividade (aliada a mentalidade) para jogar a este nível. A confiança que tem em si (ter bola) foi, muitas vezes, inimiga de si mesmo, tantas foram as vezes que a perdeu em "zonas proibidas". À parte disso, falhou na cobertura a Abel perante Simão e não revelou presença ofensiva que permitisse tabelas e apoio com Liedson. Foi o Nuno André Coelho de Carvalhal, aposta clara com a intenção de saber qual o jogador a tirar caso ocorresse algo (um golo nosso, ou um golo deles, ou inferioridade numérica nossa). O 2º pecado ocorre na demora na observação lógica que, a partir dos 9 minutos, todos sabiam que Grimi ia ser expulso. Com Reyes naquele lado, com este árbitro e ambiente, aliado à acefalia de Grimi, a sua expulsão era uma questão de tempo. Só Carvalhal não percebeu isso...

O resultado, para mim, é mau. Não face ao contexto do jogo mas face à qualidade do At. Madrid e do seu treinador. O 0-0 transfere toda a responsabilidade para o Sporting. A exigência e crença que os adeptos leoninos terão na próxima quinta-feira serão muito maiores à verificada contra o Everton. Já ninguém espera surpresas, mas sim a vitória (o único resultado que interessa). Mas sem Tonel e Grimi (contando com eventuais lesões ou fracas recuperações) o leque de escolha é menor. E, por outro lado, há uma equipa longe da sua casa e público, sem pressão, que explorará o melhor do seu treinador, as transições rápidas feitas pelos únicos jogadores de qualidade. O Sporting tem que, rapidamente, virar a eliminatória a seu favor (1 golo basta) para devolver ao At. Madrid uma maneira de jogar para a qual não está talhado, a do futebol pensado, e ataque continuado.

Eu (ainda) acredito.


ps1: um grande OBRIGADO a todos os adeptos leoninos que se deslocaram e fizeram ouvir em Madrid. Uma grande demonstração de Força e Dimensão que só está ao alcance das grandes instituições. São o maior Património do Sporting Clube de Portugal.
ps2: como é que perante tamanha dedicação por parte dos adeptos leoninos, teve que ser o Pedro Mendes a chamar a equipa (já a caminho dos balneários) para ir agradecer o apoio perto da bancada? Porra! Não sentiram o apoio deles? Se eu até ouvi em minha casa!
ps3: a arbitragem. Se eu fosse holandês e arbitrasse o Sporting será que ia ser isento? Quais são as probabilidades do meu clube ser o Ajax, Vitesse, Feyenoord, AZ Alkmar ou Twente?
Simão fez mais faltas do que Grimi. Paulo Assunção distribuiu fruta e Aguero simulou uma série de vezes. Tonel foi totó e anjinho. Será que alguém expulsava um Ferdinand, Terry, Maldini, Canavaro, Hierro, Puyol, Lúcio, após um empurrão daqueles? Lá está, novamente, a dimensão...
ps4: espero que contra o Guimarães jogue o João Pereira. 7 jogos seguidos para o Abel em 3 semanas é demais (e também por outras razões já muitas vezes enunciadas).