Já fazia
algum tempo desde que o Sporting visitava o FC Porto com tanta confiança num
bom resultado. Desde do tempo de Paulo Bento (as primeiras duas épocas) que, na
cabeça dos adeptos leoninos e, talvez, jogadores, não se sentia que o momento
em que se visitava o Dragão correspondia a uma boa fase do seu futebol, quer em
resultados, quer do ponto de vista da sua execução. Essa confiança e (alguma)
determinação estavam bem demonstradas nas palavras do Presidente da Direcção,
Presidente do Conselho Fiscal, ex-jogadores, jogadores e adeptos. E foi mesmo
nestes últimos que residiu o último acto de confiança na obtenção de um bom
resultado, bem visível no número que se deslocou ao Dragão e na forma como
apoiaram ao longo de todo o jogo.
No entanto, o
jogo começou e cedo se percebeu que os jogadores e técnicos, na verdade, não
acreditavam que era possível ganhar ali. A ausência de agressividade, lentidão
na abordagem aos lances, a raridade em ganhar 2ªs bolas, a ineficácia total nas
bolas divididas (nunca se entrou em “carrinho” com um jogador do Porto), tudo
isto espelhava o demasiado respeito com que se olhou para o adversário. Todas
as estas circunstâncias traduziam uma realidade que ainda não tinha visto nesta
equipa: Medo.
O Sporting
não jogou bem. E a forma como sofreu os 2ºs primeiros golos (além dos erros
individuais de Maurício e Rojo – já lá vamos) deixou no ar a sensação que
Jardim não preparou bem a equipa (ou os jogadores não avaliaram bem os
adversários). Os movimentos de Varela e Alex Sandro, no 1º golo, bem como o
movimento de Danilo no 2º são acções típicas destes jogadores. Até no youtube
há jogadas daquelas de Danilo no Santos!
A 1ª parte
relembrou-me aquele Sporting que eu sempre vi (com raras excepções) nas
Antas/Dragão e Luz, desde dos finais dos anos 80. Um Sporting com pouca gente a
atacar, um futebol muito esticado e em esforço, em que as jogadas de ataque
surgiam de lances individuais que rapidamente eram abafados por 3 adversários,
sempre mais frescos e rápidos. Ontem, como nos últimos 20 anos, a baliza adversária
foi uma utopia.
Na 2ª parte
melhorámos ligeiramente, fruto de uma entrega de iniciativa de jogo por parte
do Porto. Deu para subir linhas, chegar mais à frente com mais gente e,
finalmente, disputar o jogo. Tal como o Porto, revelámos eficácia na 1ª
situação de golo. Só que, logo a seguir, vacilámos novamente. Quando Porto
decidiu atacar porque o empate assim exigia, num minuto fez aquilo que nós, raramente,
conseguimos fazer: atacou. E atacou com mais jogadores, levou gente e a bola
para zonas subidas e, um minuto depois de ter sofrido o empate, voltou à
liderança do marcador.
Reagimos em 3
lances: Capel, num remate de 1ª a escassos metros da baliza; Montero, num
cabeceamento que tinha de ser golo (e aposto que não falhará mais nenhuma
daquelas até ao fim da Liga – mas logo ali tinha de falhar – azar…); Píris, num
remate de longe, obrigando, mais uma vez, Helton a grande defesa.
Só que, de
seguida, apareceu o 3º golo do Porto, colocando o ponto final numa estória já
há muito vista e que, sinceramente, ninguém viu ser possível de alterar, desde
dos primeiros minutos do clássico.
O Sporting
nunca conseguiu aproveitar o momento menos bom, em termos exibicionais que o
Porto atravessa. Não conseguiu que o Dragão soltasse a sua ira para com os seus
jogadores e técnicos, como já tantas vezes fez nesta curta época. O Porto nunca
se sentiu desconfortável nem pressionado. E isso terá sido a nossa maior
demonstração de fraqueza.
Este jogo
demonstrou que o nosso plantel tem muitas limitações. Rojo e Maurício são
defesas banais. Podem ser melhores que muitos nesta Liga, mas estão longe de estarem
aptos para jogar ao mais alto nível. A abordagem de Maurício a Alex Sandro é digno do INATEL e a forma como Rojo é batido por Danilo (dá-lhe tanto
espaço e “prega-se” ao chão) e por Varela no 3º golo (alguém acredita que Capel
ganhava uma bola daquelas ao Mangala ou Otamendi?) são claras quanto às suas
limitações. André Martins (para grande desgosto meu) pareceu-me perdido e
encolhido. O Sporting precisa mais que aquilo que demonstrou. Os melhores terão
sido Píris e William (embora com uma 1ª parte fraca). E do banco, mais uma vez,
não surgiu uma solução que pudesse melhorar o que se vinha a fazer.
O que este
jogou também revelou é a diferença de Estatuto que ambas as equipas detêm nesta
fase. Eu diria que existe uma diferença de cerca de 30 anos. O Porto marca o
seu 1º golo por um jogador que nem deveria estar em campo. Mas como é o único
que sabe marcar penaltys para aqueles lados (nesta Liga foi só o 4º, em 8 jogos…),
tinha que estar disponível e ausente de qualquer castigo. Aliás, foi o mesmo
jogador que serviu Danilo para o 2º golo do FCP. O lance do penalty
(indiscutível) não é muito diferente de um lance entre Carrillo e Danilo: vão os
dois à bola, só que Carrillo chega primeiro e é derrubado. Segue jogo… O amarelo
a Píris é de rir. Aliás, o estatuto do Porto é tão elevado que até o filósofo
Freitas Lobo disse “que aquele lugar [em frente ao banco do Porto, no Dragão] é
o pior sítio para Píris dividir um lance com o Josué.” Enfim… Estes lances,
aliados às entradas violentas de Varela a William, Jackson a Adrien e Otamendi
a André Martins (tudo ao nível de tornozelo e calcanhar) só premiadas com um
amarelo a Varela, também são fruto do estatuto que não temos.
Diz Leonardo Jardim
que este jogo não muda nada face aos objectivos traçados para esta época. Acredito
e concordo. Ainda assim, o próximo jogo, em casa, com o Marítimo (equipa com
quem perdemos 3 dos últimos 4 jogos com quem fizemos para a Liga) é de
resultado único: Vitória. Isto porque somos melhores que o adversário e porque,
uma semana depois, vamos a um estádio disputar uma eliminatória da Taça de
Portugal onde, normalmente, a baliza adversária é uma miragem. Há que evitar o
efeito dominó.
Sábado, todos
a Alvalade!
ps: porquê
que não jogámos com o equipamento oficial e sim com calções brancos?
12 comentários:
Subscrevo totalmente.
O Rojo para o que joga e ganha, é uma ofensa.
Espero que este jogo cale os Bancelares desta vida.
Cantinho,
Concordo na generalide.
Sobre a questão dos calções brancos, já assim é há algum tempo.
Tem a ver com a necessidade de contraste entre equipamentos. o FCP joga sempre com calçoes brancos em Alvalade.
Só queria deixar ainda outro pormenor.
Se não estou em erro, o lance da jogada do penalti, nasce num roubo de bola em falta ao André Martins que apanha a equipa em contra-pé.
Saiba-se lá porquê, zero repetições na TV. Isso e ouvir as alarvidades do Freitas Lobo, a soar a felácio ao FCP. A arbitragem não teve aqueles erros grosseiros que têm impacto directo no resultado. Mas ver como o Jackson ganhou umas 3 faltas, em lances "pegados" com defesas do Sporting, ou as brinacdeiras a meio-campo, e depois vemos como se dá amarelo ao Piris...
Cantinho,
Como é que entrar em carinho, fazer esse jogo mais agressivo, casa com o amarelo ao Piris?
É que há que perceber as regras do jogo, não é por acaso que há 3 anos que não acabávamos o jogo com 11.
5 expulsões em 3 jogos, salvo erro.
Relva,
Obrigado. O Rojo e Maurício têm qualidades quando defendem de frente para o jogo e quando, nessa situação a bola vem pelo ar, sendo bons na antecipação (o Rojo principalmente). Mas quando o jogo se aproxima deles, pelo chão e pelo ar (esta última, no caso do Rojo) são muito limitados, custando golos e pontos. E depois Rojo é um puto que não tem estrutura para superar certas situações. Perto do fim, o Sporting está no ataque, tem gente na frente (mais do que o normal) e Rojo faz um remate quase de meio-campo que é um insulto. E quantas vezes faz isso? Nunca vi o Luisão, Garay, Otamendi e Mangala a fazerem tal disparate.
JPDB,
Mas essa questão do contraste nunca se colocou no passado? E tenho de reparar nisso do Porto em Alvalade. É que o Sporting é sempre "comido". Contra a Académica (em casa ou fora), nunca jogamos com o nosso equipamento nº1 completo.
Não há repetição do lance que falas mas deram uma série delas de um lance de Jackson e Rojo na área do Sporting (1ª parte) para ver se arranjavam alguma coisa. E o lance do Carrillo com Danilo, só à 10º repetição é que começaram a comentar. Mas 1º ainda disseram que "ambos quiseram jogar a bola, é disputa". Como se querer disputar uma bola ilibasse logo alguém de cometer falta? O Maurício também quis disputar a bola, mas fez falta porque chegou atrasado.
FCS,
Talvez a maneira como tenha escrito não seja clara para aquilo que eu queria passar como mensagem. Custou-me ver que a nossa disputa pelos lances tenha sido quase nula. Há uma série de bolas na 1ª fase de construção do Porto (que foi péssima) em que a bola ficou ali, à mercê, e os do Porto chegavam sempre primeiro porque iam em "carrinho" e nós, em pé. Faltou isso, pareceu-me.
Agora também tens razão com os números que revelas. Mas o resultado final foi o mesmo com 11 ou 10 ou 9, a derrota (mas safou-se os castigos). Percebo, "regras do jogo"...
Há um lance quase no fim, em que Montero e Capel pressionam a saída de Otamendi que perde a bola para Magrão que, de primeira, isola Montero. Soares Dias marcou falta. Porquê? Eu acho que foi porque o Otamendi perdeu a bola. E isso, ali, é falta.
Abraço
Continuo a não considerar André Martins como uma mais valia para o Sporting.
É muito pequenino para o futebol que se pratica em Portugal, designadamente com equipas que jogam futebol musculado, como é o caso do Porto.
Como é um jogador tecnicista e muito habilidoso, em jogos mais fáceis sobressai, mas, em jogos difíceis, passa ao lado da partida, sobretudo no plano defensivo.
Não tem poder de choque e está constantemente a cair.
Também Cédric não consegue acompanhar situações de ataque continuado.
Sei que grande parte dos adeptos não concorda com esta opinião, mas é o que sinceramente penso.
DUARTE
Cantinho, curiosamente concordo em quase tudo, mas retiro uma apreciação global mais positiva do que a refletida pelo post.
Na segunda parte, podemos falar de estratégia do Porto e recuo de linhas e entrega da iniciativa ao adversário. Mas a forma como aceitámos e agradecemos o convite (e o aproveitámos) creio não se dever apenas a demérito do Porto, houve ali + cabeça do que eu próprio esperava.
Mais: creio que teremos criado mais oportunidades no Dragão neste jogo do que em anos anteriores onde até marcámos 1 ou 2 golos. Estando em desvantagem e com o Porto a "controlar" o jogo.
A nota de discordância (uma raridade...) vai para a arbitragem, por dois motivos: não considero falta o lance sobre o Carrillo (a meu ver é o Carrillo que provoca o contato) e houve ali duas ou três entradas bem durinhas do nosso lado que tiveram a mesma tolerância. Em termos de critério, acho que o Soares Dias nem esteve mal (eventualmente faltou o amarelo ao Mangala na primeira parte).
Já quanto ao Josué, creio que depois da cuspidela no jogador do Arouca e de ter marcado ao Sporting, o Paulo Bento, no mínimo, promove o rapaz a titular da seleção.
Duarte,
Todos devemos dizer o que pensamos, independentemente do que outros possam pensar. Cédric fez um bom jogo e raramente teve apoio de Wilson e Carrillo, o que dificultou. Foi displicente ao deixar fugir Lucho no 3º golo, mas quem imaginaria que Varela ganhava nas alturas ao central Rojo? E ainda faz um grande centro para Montero falhar o 2-2. O André desiludiu-me. Aguentou mal a bola e raramente a soltou em condições. Tem o lugar em risco e é melhor do que aquilo.
Koba,
Não quero dizer no post que a arbitragem influenciou o resultado final. Mas creio que é uma imagem do Estatuto que cada um dos clubes tem. O Mangala se leva amarelo nessa situação teria uma 2ª parte mais condicionada. Licá demorou uma eternidade em levar amarelo e o amarelo (e falta) ao Píris acontece por que o árbitro está intimidado e é complacente com o ambiente daquele estádio.
Para mim é falta sobre o Carrillo. Se há intenção? Creio que não. Mas Carrillo chega primeiro e leva um pontapé (igual ao lance Maurício e Alex Sandro).
Josué é a cara do Porto. Isso para mim chega para o classificar e inseri-lo no ambiente que rodeia aquele clube e o futebol português (onde se inclui a FPF).
Grande abraço!
O Wilson Eduardo não fez uma jogada!...Para mim foi o pior jogador em campo. Decepcionou-me. SL
O Sporting não jogou mal. Disputou o jogo e se Montero tem marcado outro galo cantaria. Julgo que a principal pecha da equipa deve ser atribuída ao treinador, que fez opções que são recorrentes e que se mostram ineficazes. A escolha de Carrillo é um disparate. Tendo Cappel no banco é um erro crasso. Carrillo oscila entre a ausência e alguns fogachos inconsequentes. Cappel estica o jogo da equipa e aproxima a equipa do golo. Se Jardim preguntasse a Montero quem é que ele prefere, Montero explicava-lhe que preferia o Cappel mesmo com menos uma perna. A aposta em Wilson Eduardo revela-se um fiasco nos jogos mais exigentes. Neste jogo podia ter trocado Wilson Eduardo por Vítor e deslocado André Martins para a direita. Reforçava o meio-campo e garantia maior posse de bola. Wilson perdeu todas as bolas que lhe chegaram aos pés. A aposta em Maurício - um jogador de antes quebrar que torcer, com uma entrega notável, mas um bocado abaixo do nível do Sporting - em detrimento do Drier é um erro crasso que prejudica o Sporting neste momento e o prejudicará no futuro. Drier é o melhor central do Sporting e não percebo porque razão Jardim se recusa a ver essa evidência. Rojo também é fraco - a sua intervenção no golo de Danilo é patética - mas tem estado melhor. Nenhum dos dois garante segurança na defesa. Há alternativas no plantel. Jardim tem tido falta de coragem na resolução desta questão. Na altura em que Jardim faz entrar Magrão, ninguém terá querido acreditar no que estava a ver. A perder, com Slimani no banco, esta opção só podia dar no que deu: jogámos o resto do tempo com um a menos.
Ou muito me engano ou o lugar que o William Carvalho teria na seleção já está reservado para um jogador brasileiro do FCP - Fernando!
Inacreditável mas verdade. O jogo de interesses continua a grande volucidade e Paulo Bento começa a gostar de fruta como nunca antes!!
SL
Enviar um comentário