domingo, 31 de maio de 2015

Mudança de paradigma

(Magdeburgo, Abril de 1974 - Tomé acabava de "falhar" o acesso à final da Taça das Taças - retirado do Armazém Leonino)


Nas últimas duas semanas não estive em Portugal. Férias e uma visita a amigos que se encontram emigrados levou-me a conhecer parte da ex-RDA (algo que recomendo).
Uma das cidades onde parei, mesmo sem nunca lá ter estado, já era minha conhecida, por fazer parte de uma das múltiplas histórias que o meu pai me contava (e conta) sobre o nosso clube. Nesse dia, à noite, decidi telefonar ao meu pai (que sabia que eu estava pela Alemanha) e, meio a provocar e a ironizar, só lhe disse isto: "hoje estive numa cidade de boa memória para ti". Do outro lado a resposta foi imediata: "Magdeburgo!!!". Sorri. E ainda antes de eu poder dizer mais qualquer coisa ele continuou: "Cá o Dinis falhou um penalty e lá o Tomé, quase no fim, mandou a bola ao lado da baliza. Era o 2-2... [grande lamento]".

Este episódio triste da memória leonina, ocorrido em vésperas da Revolução dos Cravos (os da Alemanha do Leste tiveram de esperar mais 14 anos pela sua Liberdade), permitiu ao Magdeburgo chegar à final e vencer a Taça das Taças contra o Ac Milan, treinado por um tal de Trapattoni.


Esta introdução serviu, por um lado, para confirmar a forma como vivo (e sei que muitos também pensam e vivem assim) o Sporting mas, por outro lado, a maneira como encaro muitas partes da minha vida. Muito Pessimismo, reduzida confiança no Sucesso e uma excessiva tendência em recordar os episódios menos bons, ao invés de valorizar e exaltar o (muito de) Bom que vai acontecendo.
Ainda com Magdeburgo em mente, tive a oportunidade de, em Leipzig, encontrar um livro sobre a história dos principais clubes da Alemanha do Leste. Além do Dínamo de Dresden, Leipzig e outros, lá estava o Magdeburgo. Na sua parte, essa Taça das Taças aparece como o maior feito. E lá estava uma página dedicada só à meia-final. Para meu espanto, juntamente com os elogios aos bravos alemães (opinião dos autores), constavam um grande elogio ao Sporting e seus atletas, pela excelente forma como se bateram, elevando ainda mais a conquista alemã. Referem ainda o excelente ambiente vivido em Alvalade por 45 mil adeptos, em contraste com os 33 mil em Magdeburgo. Pela 1ª vez (e foi preciso estar no local mais improvável para isso), olhei para este facto da nossa História através de uma perspectiva positiva. Até nas histórias tristes há algo de bom, sempre menos valorizado. Até aí, Magdeburgo era só uma derrota, mais uma, daquelas que não se podem perder. Era o penalty falhado do Dinis, o falhanço do Tomé e as ausências, na 2ª mão, do Yazalde e Dinis. E quando coloquei esse episódio na memória do meu pai, ele voltou a mencionar isso, só isso, o mau, a dor da derrota.


Nós somos assim.


E há tantos episódios da nossa história, caminhadas europeias, provas inteiras onde prefiro sempre lembrar o jogo infeliz do que aqueles, nessas mesmas competições, onde fomos enormes, os tais que ajudaram a construir a nossa História, Identidade e que, no fundo, possibilitaram esta nossa Paixão pelo Sporting Clube de Portugal.

Porquê que, ao relembrar da caminhada uefeira da equipa de Marinho Peres, opto sempre por lembrar os golos falhados do Oceano (em Alvalade contra o Inter) e o penalty estúpido cometido pelo Douglas (em Milão), ao invés de recordar o golo do Luisinho em Bolonha? Ou chapéu do Cadete na Bélgica (com o maravilhoso "manguito" do Marinho Peres)?
Porquê que opto por recordar o golo do Roberto, em vez de dizer que vergámos o Barcelona? 
Porquê que menciono o frango do Lemajic contra o Real Madrid ou a bola a passear pela linha de golo no último minuto (com o Cadete a olhar para ela), em vez de recordar os 2 jogos que fizemos contra esse mesmo Real, onde fomos sempre superiores, no campo e na bancada?
Porquê que me recordo mais dos frangos do Costinha em Salzburgo (e Viena) e não exalto a eliminatória antes contra o Celtic, num Alvalade a rebentar, com um Cadete enorme?
E o lamento da bola ao poste do Rogério contra o CSKA, em oposição à cabeçada de Miguel Garcia, à viragem contra o Newcastle, ao baile em Middlesbrough ou ao golo do Pinilla contra o Az Alkmaar?

E no Jamor? 
Porquê que um pontapé de Mauro Airez na mão do Costinha (e a merda do very-light que acabou a escassas dezenas de metros de mim e do meu pai) é mais recorrente na minha memória que a tarde de Iordanov, Jardel, Liedson ou Tiuí?


Tenho que mudar. Temos de mudar. 
É tempo de ocupar a memória com factos vitoriosos e Glória. A confiança tem de surgir. O Sporting é Grande porque já Venceu. E porque Venceu, brilhantemente, muitas vezes. E, também nas muitas vezes em que não venceu o tal jogo que só se podia Vencer, teve um caminho honroso e grandioso até chegar a essa decisão.


Estranhamente, estou confiante para hoje. Não a 100% (não esperemos já milagres, a "terapia" ainda agora começou). Enquanto houver Alan e um Pardo, que tem tudo para castigar um desconcentrado defesa leonino, não posso estar descansado.
E mesmo num período em que o futuro do Sporting é construído em instabilidade e constante guerrilha interna, onde a preparação para mais um jogo que só se pode Vencer foi feita com alguns episódios caricatos (até tivemos um Presidente a marcar cantos enquanto o Treinador tentava treinar e concentrar a equipa), acredito que amanhã, num palco onde já reinaram muitos grandes jogadores leoninos, o Sporting vai aparecer.


Hoje, estou preparado para Mudar porque quero Crescer. E tu Sporting, o que queres fazer?

9 comentários:

Mestre de Cerimónias disse...

Excelente post, Cantinho! Saibamos nós adeptos estar também à altura da história do nosso clube. E temos definitivamente que acabar com os pró-Marco e os pró-Bruno, e sermos todos apenas e só pró-Sporting. Um abraço.

Cantinho do Morais disse...

Caro Mestre,

Obrigado pelas palavras.
Eu sou do e pelo Sporting!!
E TODOS (especialmente dentro do clube) têm de ser assim.

um abraço

setaverde disse...

Quando alguém morre, qual é a primeira pergunta? É a pergunta: "Qual foi a causa de morte?". É por isso que a nossa memória é sempre mais fresca em relação ao último jogo numa competição europeia, em relação às causas de uma eliminação. Há um padrão nessas eliminações, a debilidade dos nossos guarda-redes, Lemajic, Costinha e Ricardo. Não é a marcação de um canto, ou de vários cantos, por parte do presidente Bruno de Carvalho, durante uma palestra do treinador ao plantel, que vai prejudicar a preparação para a final da Taça de Portugal, mal seria se jogadores profissionais não se conseguissem abstrair de algo tão inofensivo. Se assim não fosse, não conseguiriam fazer um único jogo em Alvalade, a não ser que fosse encerrado ao público. Apesar de parecer crítico em relação ao seu post, gostei muito da descrição da sua viagem à ex-rda, prova da sua imensa paixão pelo nosso clube, ao visitar uma cidade como Magdeburgo.

Saudações leoninas.

Anónimo disse...

Estou FARTO do Bruno e do Marco, e do Marco e do Bruno. Quero viver o Sporting sem essas merdas constantemente. SPOOOOORTNG!!!

FCS disse...

Grande post!

Somos melhores e vamos ganhar.

VIVA O SPORTING!!

Virgílio disse...

Excelente, Cantinho!!!

Tb eu me sinto (estranhamente) confiante!

Que esta confiança (geral) dos sportinguistas se transmita à equipa, que entrem que nem onze leões esfaimados e que conquistem a glória meritoriamente!

Viva o SCP!

M. disse...

Cantinho, acho que não podia haver um jogo melhor do que este para puxar por esta mudança! :)
Um abraço e Viva o Sporting!

Anónimo disse...

Está mais do que na hora de nos deixarmos dos fulanismos, sejam eles quais forem, e respeitarmos o Sporting Clube de Portugal. Só assim poderemos ser um clube frequentemente vitorioso.

Cantinho do Morais disse...

Meus caros,

A TAÇA É NOSSA!!!

Grande abraço a todos!

VIVA O SPORTING CLUBE DE PORTUGAL!!!!