quinta-feira, 24 de março de 2016

Mais um pouco que se vai, mais uma recordação


Sempre dormi pouco. Foi assim em bebé, depois em criança e, agora, em adulto. Dormir nunca foi para mim (não é que não tenha sono, durmo é pouco). Se, hoje, esse problema só me atrapalha a mim, em criança foi algo que prejudicou muitas das manhãs de fim de semana e de férias dos meus pais.
Como consequência, cedo os meus pais ensinaram-em a mexer na Tv. A partir daí, aos fins de semana, pelo menos até ao "70x7" ou até à "Eucaristia Dominical", eu estava "domado".
Só que, rapidamente, os desenhos animados deixaram de me entreter.

Então, em 1988, dá-se um acontecimento importantíssimo lá em casa: o meu pai compra um leitor de vídeo (VHS - sim, Beta já era).
Além de um filme do Lucky Luke (Daisy Town), visto vezes sem conta, foram as cassetes com futebol que me acompanharam em muitas manhãs (algo já recordado aqui).

Consolidava-se aí a minha relação com o Futebol (iniciada em 1986, no Mundial do México). As manhãs passavam a ser preenchidas com gravações das finais da Taça de Inglaterra (que davam, em directo, na RTP 2), do Mundial de 90, do Euro 88, de jogos internacionais (Milan de Sacchi e os 3 holandeses, PSV de Romário e Hiddink, entre outros), bem como do Liverpool (antes do Sporting, eu só fui do Liverpool).

Além das gravações, o meu pai - conhecedor do meu gosto pelo futebol - por vezes, oferecia-me cassetes. Uma delas, contava a História dos "5 melhores jogadores de sempre" - Diego Maradona, Pelé, Eusébio, Franz Beckenbauer e Johan Cruyff .
Vi a cassete dezenas de vezes. De todos os que já não jogavam (Maradona era o único ainda no activo, o que diz muito desse enorme jogador [o melhor de sempre até aparecer Messi] ), Johan Cruyff foi o que mais me cativou.
Agradecer-lhe pelas manhãs bem passadas será sempre pouco. Através da admiração que senti logo por ele, iniciei pesquisas para mundos futebolísticos que ainda me eram desconhecidos. Descobri a Laranja Mecânica de 1974 e, principalmente, o seu Barcelona, por quem rapidamente me apaixonei. Junto do meu pai (que sempre adorou o Barcelona e a "escola holandesa" - que admiração que tinha pelo Cruyff e pelo PSV do Hiddink que até ficou destroçado quando este foi para o Real Madrid...), segui o percurso do Barcelona de Cruyff no alcançar do topo em Wembley (1992), passando pelo Tetra na Liga espanhola (com ajudas fundamentais de Romario, Laudrup, Stoichtkov, Koeman, Zubi, Bakero, Guardiola, bem como do Tenerife e Deportivo de Bebeto, Mauro Silva, Fran, Donato e Djukic...), finalizando, tristemente, em Atenas, perante um Savicevic intratável.

Recordo-me perfeitamente da sua "passagem", no banco do Barça, do cigarro para os chupa-chupas (a merda de uma doença já ameaçava), numa mesma altura (e em perfeita analogia) em que o meu único herói da BD, o Lucky Luke, também ele, passava do cigarro para uma palha, sem nunca perderem a sua qualidade na actividade que exerciam.

Relembrar Cruyff é ir à memória da minha infância e pré-adolescência. É reconhecer-lhe e agradecer-lhe pela importância que teve no meu gosto pelo Futebol, pela boa prática do mesmo, e pela admiração que hoje mantenho por dois elementos fundamentais do Futebol Mundial: Barcelona e Guardiola.

As figuras mundiais são isto mesmo. Mesmo sem saberem ou conhecerem, fazem parte da vida de muita gente. Cruyff fez parte da minha vida e da de meu pai. E isso, tinha sempre de ser reconhecido e recordado.

7 comentários:

dosul disse...

não foi Laranja Mecânica de 1974 ?

Cantinho do Morais disse...

dosul,

que erro!!! já está corrigido.
O Brasil sim, é de 70.

obrigado.

apostas desportivas betclic disse...

Grande jogador, treinador, com uma visão ímpar. O Cruyff deu muito ao futebol.

Anónimo disse...

O minha relação de paixão foi desde novo com o Sporting. Curiosamente a primeira recordação que tenho é de perder um jogo com os de carnide e da minha familia estar a gozar comigo e com o meu avô, porque os outros é que eram bons, porque ganhavam mais. Nesse dia pensei que haveria de ser do Sporting até morrer, independentemente de resultados... isto quando não tinha ainda uma década de vida. Mas sim percebo perfeitamente a referência à ligação com o futebol ter começado com o Mundial de 86. As primeiras descargas de adrenalina (vibrar mesmo) e ligação a um mundo mágico como é o futebol começaram aí. Lembro-me de comprar umas pastilhas e numa delas ser premiado com uma camisola com o logotipo da prova. Sabia o hino do mundial de cor... belos tempos.
Já era do Sporting nessa altura, mas é curioso que os meus ídolos começaram por ser tripeiros... lol. Tirando o Mário Jorge e o Oceano (claro). De resto nomes como o pacheco, o sousa e mais tarde o gomes marcaram-me.
SL
Basco "O Leão"

Cantinho do Morais disse...

Basco,

México 86 foi brutal. Lembro-me de vibrar com os jogos do Paraguai, Argentina, Alemanha, México (Negrete) e Inglaterra.
Também me lembro dos nossos jogos e da injustiça que foi colocar-se as culpas no nosso grande Vítor Damas (já para não falar da não convocatória do Manuel Fernandes, o melhor marcador desse Campeonato Nacional).

Além da música oficial (a melhor mascote de sempre - Pique), lembro-me das canções da selecção nacional (ainda tenho os discos):

https://www.youtube.com/watch?v=PSEp4Bz73WA

Anónimo disse...

Naqueles tempos fazia-me sentido e achava mágico a frase "el mundo unido por un balón", mesmo que o mundial fosse uma competição. Não sei se era da idade, mas as recordações que tenho são só de felicidade a ver os jogos. Nunca na vida pensava em esquemas de árbitros ou jogadas de bastidores, jogadores maldosos... sentia o mesmo que a frase do tema do mundial... estava tudo unido para que aquele acontecimento fosse mágico. Fiquei triste com Portugal e o bento, mas sou sincero, por andar na primária não tive noção das injustiças que falas. Nem tão pouco do caso saltilho... só anos mais tarde é que soube. Lembro-me de ficar triste com o jogo com Marrocos e falarmos disso na escola, mas não me lembro de se culpar o grande Damas.
A infância é mesmo um lugar único... lembro-me de no ano seguinte vibrar intensamente com a reviravolta que o porto teve contra o bayern. Vibrei loucamente como só uma pessoa inocente consegue. Coisa que hoje em dia acho impossível. Acho (não, tenho a certeza) que se o jogo fosse hoje em dia, nem perdia tempo a vê-lo. Ainda assim é como diz o outro "e recordar é viver", eu que de saudosista tenho muito pouco. Há coisas e momentos que nos tocam muito e este texto teve o condão de soltar essas memórias todas. Obrigado e parabéns Cantinho.
SL
Basco "O Leão"

Cantinho do Morais disse...

Basco,

o paradigma do futebol mudou. Resta saber se mudou, somente, aos nossos olhos, se já tinha mudado quando ainda o víamos com esse romantismo que retrata (mas a nossa infância ainda não permitia tal alcance).

Vou-lhe confessar uma coisa, "aqui que ninguém nos ouve". Essa final de Viena foi a minha 1ª desilusão europeia. E isso deveu-se a 3 razões: adorava o Jean Marie Pfaff (guardião belga - lá está, México 86 - do Bayern), pois sempre gostei de GK; tinha uma prima minha que vivia em Munique e trazia-me muita informação do Bayern (emblemas, galhardetes); e, para mim, era impensável o Porto vencer o Bayern (e o meu pai não suportava a ideia de ver o Futre de azul).
Resultado: desilusão total e completa...
Mas repara, quando ganharam no Japão ao Penarol, já não me fez confusão nenhuma e lembro-me de ser um feito brutal.

Adoro futebol e adoro viajar nestas memórias. Eu sou assim por aquilo que vivi. Nunca ganharei nada pelo e com o Futebol. Mas porra, faz mesmo parte da minha vida. Gosto mesmo.

abraço